Após protestos, votação sobre autarquização da saúde da Unicamp é suspensa por tempo indeterminado; servidores estão paralisados
16/12/2025
(Foto: Reprodução) Após protestos, votação sobre autarquização da saúde da Unicamp é suspensa duas vezes
A sessão do Conselho Universitário da Unicamp (Consu) desta terça-feira (16), que previa a votação do projeto para transformar a área da saúde da universidade em uma autarquia, foi suspensa por tempo indeterminado, após duas interrupções devido à entrada de manifestantes em prédios da instituição. A Polícia Militar foi acionada. Diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp afirma que paralisção deve continuar — saiba mais abaixo.
🔎A autarquização da saúde da Unicamp transformaria hospitais e unidades de saúde da universidade em uma entidade com gestão e orçamento próprios, separada da administração central — saiba mais aqui.
Em nota, a Reitoria da Unicamp manifestou "repúdio aos graves atos de violência ocorridos nas dependências da universidade na manhã e na tarde desta data". De acordo com a nota, os episódios configuram "afronta à autonomia universitária" e que as práticas "são incompatíveis com os princípios democráticos".
No entanto, a nota não confirma qual será a data da nova votação do plano de autarquização do complexo de saúde — veja a nota na íntegra aqui.
Segundo a assessoria da Unicamp, o reitor Cesar Montagner afirmou que o processo vai continuar. “Nós temos a clareza da importância da proposta e vamos estudar a melhor forma de encaminhar o processo. Ele não termina aqui”, garantiu.
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➡️Inicialmente, a votação do plano de autarquização estava prevista para o dia 9 de dezembro e foi adiada para a sessão desta terça (16) por divergências entre os membros do Conselho. Entre as reclamações estava o pouco tempo para avaliar a proposta. Após as manifestações desta terça, a votação foi suspensa. Entenda mais abaixo os motivos da polêmica.
Manifestações e suspensões
Autarquização da saúde na Unicamp: sessão do Consu é interrompida por manifestantes
A primeira interrupção da votação desta terça ocorreu pela manhã, quando manifestantes contrários à mudança de gestão entraram na sala onde o Consu estava reunido. Durante a sessão, participantes protestaram afirmando que as portas do local estavam fechadas para a comunidade. Em seguida, os manifestantes passaram a entoar coro contra a proposta de autarquização. A transmissão ao vivo foi interrompida pouco depois.
A segunda interrupação aconteceu no fim da tarde, por volta das 16h10. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), a reitoria se transferiu para o prédio da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp).
🔎A fundação faz o gerenciamento de convênios, que a Unicamp realiza com instituições públicas e privadas. Atualmente, o convênio do complexo de saúde da universidade está assinado entre a Funcamp e a Secretaria Estadual de Saúde.
Ainda de acordo com o sindicato, estudantes não estavam conseguindo acessar o link para participar da votação remota e pediram a suspensão da reunião, que não foi atendida pela reitoria.
"Por que o alto escalão estava todo numa sala reunido e fazendo reunião do Consu com outros membros conselheiros online? Os estudantes não foram ouvidos e os trabalhadores também não e aí houve um movimento de ocupação da sala e o reitor teve que suspender a votação do Conselho Universitário", disse uma diretora do STU que não quis se identificar. .
Ao g1, a assessoria da Unicamp informou que os conselheiros se reuniram com o reitor para avaliar o andamento da sessão e deliberar sobre os próximos passos dos trabalhos.
A Polícia Militar foi acionada e pelo menos duas viaturas foram enviadas para a acompanhar a manifestação.
Manifestantes entram em prédio da Funcamp e votação é suspensa pela segunda vez
Arquivo pessoal
Greve
Cerca de 30% dos servidores da área da saúde estão paralisados desde segunda-feira (15), segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU). Os funcionários têm se revezado nas áreas hospitalares, garantindo a manutenção dos serviços essenciais.
De acordo com o sindicato, os ambulatórios e as cirurgias eletivas são os setores mais impactados. O Hospital de Clínicas, por sua vez, afirmou que todas as atividades assistenciais, tanto eletivas quanto de urgência, seguem funcionando normalmente.
Já o Hospital da Mulher (Caism) informou que os serviços de enfermagem foram os mais afetados. O centro também destacou que os funcionários estão se alternando para participar dos atos e que a adesão à paralisação deve aumentar nesta terça-feira, em razão da votação prevista.
Em nota divulgada nesta segunda-feira (15), a Reitoria afirmou não haver paralisação das atividades na Unicamp e ressaltou que respeita as diferentes formas de manifestação.
Autarquização da saúde na Unicamp: sessão do Consu é interrompida por manifestantes
Reprodução/YouTube
Manifestantes se reuniram em frente ao Consu da Unicamp nesta terça-feira
Aline Albuquerque/CBN Campinas
O que mudaria na saúde?
De acordo com a proposta, a área da saúde deixaria de integrar diretamente a estrutura administrativa e orçamentária da Unicamp e seria transformada em uma autarquia chamada Hospital das Clínicas da Unicamp (HC-Unicamp).
A previsão é que a autarquização seja aprovada institucional e legalmente no primeiro semestre de 2026. A reorganização administrativa e financeira ocorreria entre 2026 e 2027, enquanto a expansão e consolidação do projeto aconteceriam entre 2027 e 2036.
PARA SABER MAIS:
Entenda em 7 pontos como Unicamp quer transformar complexo de saúde em autarquia
A autarquia reuniria oito órgãos, incluindo o atual Hospital de Clínicas e o Hospital da Mulher, Caism, e seria vinculada à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo para fins administrativos e orçamentários.
Segundo a Unicamp, com a autarquização, cerca de 17% do orçamento da universidade, o equivalente a R$ 1,1 bilhão, deixaria de ser destinado à saúde. Esses recursos seriam direcionados para a expansão acadêmica, criação de novos cursos e investimentos em infraestrutura.
Já o STU afirma que a autarquização representa a perda do controle administrativo e financeiro do complexo da saúde e alerta para a falta de garantias quanto à manutenção dos empregos dos trabalhadores e da qualidade do atendimento em saúde de alta complexidade.
Manifestantes entram em prédio da Funcamp e votação é suspensa pela segunda vez no dia
Arquivo pessoal
O que diz a Unicamp?
Leia abaixo a nota da reitoria da Unicamp após os protestos desta terça (16).
"A Reitoria da Universidade Estadual de Campinas manifesta seu veemente repúdio aos graves atos de violência ocorridos nas dependências da Universidade na manhã e na tarde desta data, os quais interromperam, em duas ocasiões, os trabalhos do Conselho Universitário, instância máxima de deliberação da Unicamp.
Episódios de invasão e intimidação são absolutamente intoleráveis e configuram grave afronta à autonomia universitária, ao livre exercício do debate institucional e ao direito de ouvir e deliberar.
É profundamente lamentável que uma universidade da dimensão e da relevância da Unicamp seja submetida a práticas incompatíveis com os princípios democráticos que regem a vida universitária, práticas essas que remetem a episódios que marcaram negativamente a história recente do país.
A Unicamp é uma instituição pautada pelo diálogo, pelo respeito às instâncias colegiadas e pela defesa intransigente da democracia, não se submetendo a ações que busquem impor interesses corporativos por meio da violência ou da coerção.
Conclamamos toda a comunidade acadêmica e a sociedade a se unirem na defesa da universidade pública, gratuita, inclusiva, diversa e democrática, não permitindo que a intolerância e a violência prevaleçam sobre o diálogo e o respeito às normas institucionais."
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