SP tem 2 tentativas de feminicídio por dia; número é o dobro de 2023, aponta levantamento
04/12/2025
(Foto: Reprodução) Violência contra mulher
Arquivo Pessoal
Duas mulheres foram alvo por dia de tentativa de feminicídio no estado de São Paulo de janeiro a outubro deste ano.
No período, foram 618 casos, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo. O número é o dobro do registrado nos mesmos meses de 2023: 291 casos. O aumento foi de 112% nos últimos dois anos.
Os casos recentes que chocaram o país, como o da mulher atropelada e arrastada por mais de um quilômetro até Marginal Pinheiros e o da mulher atacada pelo ex-namorado com duas armas no local de trabalho, não entram na contagem pois ocorreram nos meses de novembro e dezembro.
Os casos de tentativa de feminicídio são registrados considerando o sexo da vítima. A lei federal considera feminicídio quando o assassinato envolve violência doméstica e familiar, e menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima.
SP tem 2 tentativas de feminicídio por dia; número é o dobro de 2023, aponta levantamento
Arte/GloboNews
Violência contra a mulher no Brasil
Uma em cada dez brasileiras com 16 anos ou mais sofreram violência digital no último ano
Uma a cada 4 mulheres já sofreu algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por um homem, segundo a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher realizada pelo DataSenado, em parceria com a Nexus.
Perguntadas sobre qual era o vínculo com o agressor, 70% disseram que o agressor é o atual marido, companheiro ou namorado. Já 11% disseram que é o ex-marido, ex-companheiro ou o ex-namorado.
A pesquisa ainda revela que menos da metade das vítimas denunciou o agressor para a polícia, seja indo até alguma delegacia ou ligando na central de atendimento. Além disso, 62% da vítimas não solicitaram a medida protetiva contra o agressor.
👉 As medidas protetivas são ordens judiciais, previstas na Lei Maria da Penha, que proíbem que o agressor se aproxime e tenha contato com a vítima. Além disso, também proporcionam auxílio, acompanhamento e proteção à vítima. Os pedidos são analisados pelo Judiciário em até 48 horas, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Abaixo, veja os motivos pelos quais as mulheres entrevistadas disseram não ter denunciado o agressor:
SP tem 2 tentativas de feminicídio por dia; número é o dobro de 2023, aponta levantamento
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A advogada Mayra Cotta, especializada em gênero, explica que o aumento da violência contra a mulher também tem sido incentivado nas redes sociais.
Nenhum agressor comete um feminicídio porque um dia ele acorda e decide fazer isso. Ele está inserido numa cultura que, de alguma forma, o legitima e o incentiva a fazer isso, seja por meio do incentivo efetivo à violência ou pela redução da humanidade das mulheres.
Segundo ela, os "discursos de violência não são só os discursos que insuflam os homens a praticarem violência contra as mulheres". "Também são discursos que reduzem a nossa humanidade, que nos tratam como seres inferiores, merecedoras da violência que a gente sofre", diz.
Ela comenta ainda a influência e o impacto das redes sociais no discurso de ódio contra as mulheres:
"A verdade hoje é que a misoginia é muito lucrativa dentro das plataformas. Produtores de conteúdo crescem e ganham seguidores fazendo esses discursos. Promover o ódio contra as mulheres é o grande esporte nacional. Enquanto isso for lucrativo e for permitido lucrar com isso, a gente não vai conseguir de fato ir no coração do problema."
Relação com o agressor
Violência doméstica no Brasil
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Segundo a advogada, "é uma condição muito peculiar a nós, mulheres, sermos vitimadas por pessoas que um dia a gente amou, que inclusive a gente pode estar amando no momento e sermos vítimas dela".
Ela alerta que é preciso que as mulheres se perguntem: "Como é que homens conseguem ser violentos com mulheres que eles mesmos dizem que amam? Esses homens não sabem efetivamente o que significa uma união com afeto, com amor, e transformam isso em violência?".
A especialista explica que a vítima tem dificuldade em terminar o relacionamento com o agressor por uma uma série de fatores. Um deles é que a pessoa não acredita que esteja passando por uma violência ou "não tem os recursos emocionais, psicológicos, financeiros, às vezes estruturais, familiares, para conseguir sair desse relacionamento abusivo".
Para ela, são muitos incentivos estruturais e sociais que legitimam esse tipo de violência e a questão "não é só perguntar por que as mulheres têm tanta dificuldade de sair de relacionamentos abusivos, mas perguntar, como é que os homens têm tanta facilidade de promoverem relacionamentos abusivos".